Segundo
o livro “Relação de uma missão no Rio São Francisco”, escrito pelo padre capuchinho
Martin de Nantes, que esteve em Boqueirão no ano de 1671, o primeiro padre
designado para esta cidade foi o capuchinho francês Theodoro de Lucé, a pedido
de Antonio de Oliveira Ledo que havia fundando a vila há um ano. O padre
Martin de Nantes escreveu o livro na França, logo após o fim de sua missão aqui
no Brasil, por volta de 1690. A passagem no livro em que se refere ao padre é a
seguinte:
“Cheguei ao Brasil a 30 de Agosto e pouco
tempo depois segui para uma aldeia a setenta léguas de Pernambuco, localizada
numa nação de índios denominados cariris, com os quais morava um digno
missionário capuchinho, o padre Theodoro de Lucé (...). A aldeia ou burgo de
índios fora descoberta no ano de 1670, por um português chamado Antonio de Oliveira,
que, procurando passagens próprias o para seu gado, encontrou, na ribeira do
Rio Paraíba, uma tropa desses índios que pescavam a cinqüenta léguas da aldeia
da Paraíba. Esse capitão, havendo obtido dos índios liberdade e segurança, para
a colocação de rebanhos, depois de lhes haver oferecido alguns presentes, veio
incontinente a Pernambuco, à procura de um missionário, que quisesse
estabelecer-se entre os índios, para melhor proteção do gado que lhe pertencia.
Encontrou em nossa confraria o padre Theodoro, capuchinho
que havia chegado recentemente, procurando oportunidade para ser missionário.
Com a permissão do superior de Pernambuco, partiu acompanhado desse capitão,
que o fez escoltar por uma dúzia de índios, chamados caboclos(...)”
Relação de uma missão no Rio São Francisco –
1706
Companhia Editora Nacional/MEC
Sabendo-se
que 1 légua são 6.6 km, a distância desta aldeia a Pernambuco é de
aproximadamente 462 km, uma distância aproximada entre Boqueirão e Recife. Theodoro
entrou para a Ordem dos Capuchinhos em 1656. Em sua missão, ensinou os índios a
plantarem muito milho e feijão na beira do rio e batizou diversos deles, inclusive
os filhos de Oliveira Ledo. Também ensinou francês e português a eles.
Antonio
de Oliveira Ledo levou uma reclamação ao governador da capitania, acusando o
padre Theodoro de ensinar aos índios o manejo das armas, sobretudo o fato dele
e de seus colegas serem franceses. Como Martin de Nantes já havia sido
informado da carta, ele e Theodoro acusaram os portugueses de preparar os
índios para a guerra. O caso foi levado a Corte.
Martin
e Theodoro escreveram uma carta para a rainha de Portugal, D. Maria Francisca
de Sabóia - Duquesa de Nemours, que era francesa por nascimento, e outra carta para
o chefe da Ordem dos Capuchinhos, padre Gabriel de Serrent, amigo da rainha. Sua
carta foi a salvação dos capuchinhos no Brasil.
Após sua missão em
Boqueirão, que durou 15 meses, substituiu o padre Anastácio D’Audierne em uma
aldeia às margens do Rio São Francisco na Bahia. Faleceu em 1686 a caminho de
Lisboa, onde foi acometido de uma doença no navio que o transportava.